O major Quaresma trabalha no arsenal de
guerra, na cidade do Rio de Janeiro, na época, ainda capital da “Republica
Estados Unidos do Brasil”, como se compreende, no período do governo do
Marechal Floriano (que foi o nosso segundo presidente da república, logo após
Deodoro). Sendo o Major Quaresma, um apaixonado pelos estudos da nossa terra,
se dedica muito de seu tempo livre ao estudo dela, o que o leva a comprar
diversos livros, e ter uma biblioteca “respeitada”, porém, não tão respeitada
assim, pois a sociedade ao seu redor, achava um absurdo, um homem como ele, sem
título algum, se imbicar em estudos e livros, porém, essa era a alma dele, não
se preocupava com dinheiro, ou com coisas levianas, com títulos e
“puxa-saquismo”, coisas essas que o desagradavam.
No livro, Lima
Barreto, consegue nos colocar em um ambiente, incrivelmente forte, com
retratos da realidade Brasileira durante o governo de Floriano, e de sua
sociedade, sendo o próprio livro, uma grande critica as necessidades das
pessoas em conseguir títulos, e posições, inúmeras vezes, por consequência de
aproveitamento, e de certos momentos com muito pouco esforço próprio. Um quadro
azedo, que em certos aspectos continuam vivos até hoje (este livro me lembra em
certos aspectos o conto do Machado de Assis, “O Conto do Medalhão” onde ele
critica exatamente esse afeto aos títulos).
Quaresma, por ter essa ânsia e paixão pelo
Brasil, e se dedicar tanto aos estudos, acabou por colocar sempre em situações
de gozação pelas pessoas próximas, pelo simples fato de ser um homem
incompreendido, taxado de louco, e pedantista, ou seja, acreditava que o fazia
por puro exibicionismo, porém que não se deixa bater, e sempre continua em
frente com suas convicções, até como já diz o título do livro, “seu triste
fim”.
Logo de começo, já se mostra aprendendo violão
e modinhas, algo que a sociedade da época considerava “coisa de vagabundo”, mas
que no violão ele via, um verdadeiro instrumento da música e cultura
tipicamente brasileira. Sendo o seu professor de violão, Ricardo Coração dos
Outros, bem afamado no Rio, por suas modinhas (curioso, que a mesma sociedade
que criticava o violão, no geral amava essa relação com ele rsrs). O livro nos
dá por narrar a estória de Quaresma, mas de forma inteligente, grande parte do
livro, se dá narrando outros acontecimentos, que ajuda a realçar toda a visão
critica e de extrema importância.
Apresenta diálogos superinteressantes, que
realçam o quadro dito antes, com inúmeros personagens de “patentes” ou
“títulos”, sendo seu vizinho, o General Albernaz, homem que muito fala das
dificuldades da guerra do Paraguai, uma guerra que ele não lutou (se percebe
fortemente a questão dos títulos) se engrandecendo por algo que não participou.
O livro dividido em 3 partes, com uma leitura
gostosa e fluida, fugindo a visão do clássico muito meloso e puxado, esse livro
não apresenta tais aspectos de forma forte ou que atrapalhe ou canse, um primeiro
capitulo,
Fatos interessantes compostos no livro, é a
participação do major na famosa revolta da Armada, que foi um confronto que
aconteceu no período de Floriano, com as forças revoltosas da marinha, que
queriam derrubar o ditador Floriano que agia com punhos de ferro, diálogos
interessantes incluindo Floriano, e acontecimentos que mancharam essa parte da
nossa história, retratados de uma maneira genial por Lima Barreto, neste livro,
que sem dúvidas, é um dos melhores de nossa literatura e que merece lugar de
destaque no coração e alma dos brasileiros.